Licença foi concedida após quase cinco anos de análises ambientais e ocorre a menos de um mês do início da COP30, conferência do clima que será sediada em Belém (PA).


Margem Equatorial onde está localizada a Bacia Foz do Amazonas — Foto: Petrobras/divulgação

Porto Velho, RO - O Ibama autorizou nesta segunda-feira (20) a Petrobras a iniciar a perfuração de um poço exploratório de petróleo no bloco FZA-M-59, localizado a 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas e a 175 quilômetros da costa do Amapá.

Veja o vídeo abaixo:

https://g1.globo.com/jornal-da-globo/video/ibama-aprova-simulado-de-emergencia-da-petrobras-e-exploracao-na-bacia-da-foz-do-amazonas-avanca-13958743.ghtml
Ibama aprova simulado de emergência da Petrobras, e exploração na Bacia da Foz do Amazonas avança

O poço faz parte do plano de investimentos da estatal na Margem Equatorial, fronteira marítima entre o Amapá e o Rio Grande do Norte apontada pela empresa como uma das últimas áreas com potencial significativo de novas reservas de petróleo no país.

A licença foi concedida após quase cinco anos de análises ambientais e ocorre a menos de um mês do início da COP30, conferência do clima que será sediada em Belém (PA).

Entidades ambientais e ativistas reagiram à licença do Ibama para perfuração.

O Observatório do Clima classificou a medida como uma “dupla sabotagem”, tanto ao planeta quanto à conferência climática que o Brasil vai sediar.


Infográfico mostra o local em que a Petrobras vai explorar petróleo na bacia da Foz do Amazonas. — Foto: Arte/g1

“Por um lado, o governo atua contra a humanidade, ao estimular mais expansão fóssil e apostar em mais aquecimento global. Por outro, atrapalha a própria COP30, cuja entrega mais importante precisa ser a eliminação gradual dos combustíveis fósseis”, disse Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima.

O físico Paulo Artaxo, integrante do IPCC, afirmou que o país deveria focar no potencial das fontes renováveis.

“O Brasil tem a oportunidade de ser uma potência mundial em energia solar e eólica. Abrir novas áreas de petróleo vai agravar ainda mais as mudanças climáticas”, destacou

Já o climatologista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia, alertou que a região está próxima de um limite perigoso:

“A Amazônia está muito próxima do ponto de não retorno. Não há justificativa para qualquer nova exploração de petróleo”, criticou.

O diretor da 350.org na América Latina, Ilan Zugman, também afirmou que o país está “insistindo em um modelo que não deu certo”.

“Autorizar novas frentes de petróleo na Amazônia não é apenas um erro histórico. É insistir em um modelo de exploração que traz lucro para poucos e destruição para muitos”, afirmou.

Já a coordenadora da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, Mariana Andrade, afirmou que além da contradição entre o discurso climático do Brasil e o avanço de uma nova fronteira de petróleo no país, a abertura de novos poços de petróleo contradiz os compromissos do Brasil com a transição energética.

Às vésperas da COP 30, o Brasil se veste de verde no palco internacional, mas se mancha de óleo na própria casa. Enquanto o mundo se volta para a Amazônia em busca de soluções para a crise climática, vemos o Ibama conceder licença para que a Petrobras abra um poço de petróleo em pleno coração do planeta.
— Coordenadora da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, Mariana Andrade.

Para Ricardo Fujii, especialista em conservação do WWF-Brasil, a liberação da exploração de petróleo na Foz do Amazonas também representa um retrocesso e uma ameaça direta a uma das regiões mais biodiversas do planeta.

Ele avalia que o Brasil não precisa abrir novas fronteiras petrolíferas na Amazônia para garantir sua segurança energética, mas deveria apostar em alternativas sustentáveis, como as energias renováveis e a bioeconomia.

Fujii considera que insistir no petróleo é seguir na contramão do mundo e colocar em risco tanto os ecossistemas quanto a credibilidade do país na agenda climática global.

Por sua vez, o Instituto Talanoa afirmou que o Brasil se afasta das recomendações técnicas para uma transição energética alinhada ao limite de 1,5 °C e compromete a coerência entre seu discurso climático internacional e suas decisões domésticas.

📝 ENTENDA: Esse é o chamado "limite seguro" das mudanças climáticas. Ou seja, a temperatura média global não pode aumentar mais do que isso até o final do século para evitar os piores efeitos da crise do clima, causada pela ação humana e pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

"A aposta em expandir a exploração fóssil, sobretudo em uma região amazônica sensível e ainda pouco conhecida do ponto de vista científico, enfraquece a legitimidade da diplomacia brasileira e projeta o país na contramão dos compromissos assumidos no Acordo de Paris e das expectativas globais de superação da dependência do petróleo".


O que é a Margem Equatorial

A Margem Equatorial é uma extensa faixa do litoral brasileiro que vai do Rio Grande do Norte até o Amapá, já perto da fronteira com a Guiana Francesa.

São cerca de 2.200 quilômetros de costa, passando por seis estados: Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará e Amapá.

Ela recebe esse nome porque fica próxima à linha do Equador, que corta essa parte do país.

A região abriga cinco bacias sedimentares (Potiguar, Ceará, Barreirinhas, Pará-Maranhão e a da Foz do Amazonas), que são áreas com formações geológicas capazes de armazenar petróleo e gás natural.

É nelas que a Petrobras e outras empresas fazem estudos para descobrir se há reservas em quantidade suficiente para exploração econômica.

A exploração de petróleo ali começou ainda nos anos 1970, de forma experimental, mas os primeiros poços não tiveram sucesso.

Hoje, o foco está nas águas ultraprofundas, bem mais distantes da costa.

Nos últimos anos, países vizinhos como Guiana, Suriname e Guiana Francesa encontraram grandes reservas nessas mesmas condições, o que despertou novo interesse na parte brasileira da margem.

Fonte: G1